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quinta-feira, fevereiro 08, 2007

A direita vai sair do armário?

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PSDB e PFL, quer dizer, PD estão falando, imaginem, em refundação. Sucessivas derrotas eleitorais levaram as siglas a parar para pensar.
Os dois partidos foram formados por personalidades, sem ligação importante com base social alguma. O modelo vem dando sucessivas mostras de esgotamento. Vide as derrotas sofridas por caciques dos dois partidos no Nordeste, ACM e Tasso Jereissati sendo casos exemplares.
Agora, procuram algum discurso e prática política que agregue apoios na sociedade. Uma bandeira para agitar.
O PSDB nasceu como o braço moderno e não-fisiológico do PMDB. Conforme analisa hoje Franklin Martins, tinha “claras raízes democráticas e forte preocupação social”. De fato, era tido como partido de centro-esquerda, não-revolucionário. Queria mudança social, mas pensada por seus sábios, não necessariamente dando algum papel para o povo. Franco Montoro e Mário Covas encarnavam isso de certa forma.
Com os governos de FHC, essa ilusão se desfaz. O que tinha de social vai para o espaço e em seu lugar surge uma devoção as ditames neoliberais. Foi uma distorção ou um “sair do armário”? Não sei, mas aconteceu.
O espaço de centro-esquerda foi ocupado pelo PT e o tucanato perdeu o discurso. Ninguém quer carregar o fardo do desastre de FHC. Mas talvez precisem, para manter algum espaço político, assumir a cara de liberais, incorporando algum discurso social.
O PFL, desculpe, PD, nasceu de direita, formado por grandes empresários e fazendeiros. Vindo da Arena, não tinha (tem) necessariamente muito apreço pela democracia. Entrou no barco de FHC e navegou com alegria enquanto a maré foi boa. Elegeu mais de cem deputados em 1998, a maior bancada daquela legislatura. Depois foi caindo, caindo, e tomou uma bela tunda nas últimas eleições. Partido de coronéis, foi atropelado pelo Bolsa-família, pelo Luz para Todos e, quero crer, pelo amadurecimento político da população.
Sente agora a necessidade de ter de fato um programa ou, no mínimo, um discurso para se aproximar de parte do eleitorado. Se PSDB assumir sua faceta de centro-direita, ou direita democrática, menos centralizadora que o PFL, ops, PD, vai empurrar os recém-batizados democratas para um parcela menor do eleitorado. Como tem menos vergonha que o PSDB de ser de direita, deve sair dos debates internos um tom moralista nos costumes, truculento na segurança, centralizador na política e liberal na economia.
A boa notícia que pode sair disso tudo é que existe a chance de o Brasil passar a ter partidos assumidamente de direita. Que batam no peito par defender privatizações, pouca proteção social, quem pode mais chora menos de mercado. Pode ser que esses partidos de ação conservadora passem a ter também um discurso conservador. É uma evolução em termos políticos, deixa o jogo mais claro para o eleitor.
Com um pouco de otimismo, podemos imaginar que essa situação empurre o PT um pouco para a esquerda, o que já se desenhou n segundo turno das eleições de 2006. E, quem sabe, faça os canhotos mais radicais que os petistas terem mais clareza sobre amigos e inimigos.
Se o voto em lista fechada for aprovado, como está em discussão no Congresso, podemos estar caminhando para ter partidos de verdade nesse país, representando idéias e setores da sociedade, e não confederações de lideranças regionais agrupadas por interesses pessoais. É sonhar muito longe?

9 comentários:

Olavo Soares disse...

Boa análise, Nicolau. Concordo com você que faz falta, para o jogo político, um partido assumidamente de direita no Brasil. O que vemos são idéias jogadas a esmo e a ausência de uma corrente ideológica mais constituída.

O risco é, com a direita se organizando em uma legenda, que sejam carregadas com ela aquelas pessoas que são de direta, mas não sabem. Saca?

Marcão disse...

Não sei, não. A mudança de PFL para Partido Democrata sinaliza, para mim, uma tentativa de amenização da fachada direitista. Algo como Partido Liberal, um nome que não quer dizer nada - e que reúne, como partido, um monte de gente que não diz ao que vem. O que eu gostaria de ver (mas nunca vai acontecer) é um grupo que se assumisse como Partido Conservador. E outro como Partido Revolucionário. Mas aí, como bem disse o colega Nivaldo, é sonhar demais.

Glauco disse...

A direita tucana continuará dentro do armário, até porque eles não admitem esse rótulo. Já o PFL prefere outras denominações como "moderno", "liberal" e, agora, "democrata", o que é muito curioso em um partido que tem ACM e Bornhausen, que cresceram e viveram nas barbas da ditadura, em suas hostes.

Anselmo disse...

credo Marcão! Se é revolucionário já não sei se funciona como partido.

Bom, primeiro, disconcordo do Nicolau na parte do amadurecimento político da população. Isso pq é forte a tendência de achar que o eleitor amadureceu quando o seu candidato ganhou e o oposto quando perdeu.

agora, o fim da ditadura e o começo da redemocratização no Brasil foi marcada por pelo menos dois momentos políticos aglutinadores: as Diretas Já e o Fora Collor. Quem era contra essas questãs era muito detestável e todo mundo queria ir pro outro lado. Claro que a mudança de nome de PDS pra PFL tb têm a ver com a tentativa de se desgrudar da pecha direitista e da ditadura.

mas a questão central do Nicolau é: será que ter um partido de direita melhoraria o espectro político-partidário? O dilema político das esquerdas européias indica que não. A democracia cristã se opõe a social democracia ou até aos socialistas (ou os verdes, por que não?), mas na prática valeram medidas liberalizantes da economia e até xenófobas quanto à migração em governos mais à esquerda. Quer dizer, o posicionamento supostamente mais claro da direita não garantiu medidas mais à esquerda.

Até tendo a concordar que se tivessemos mais delfins nettos a disputa política poderia ser melhor. Pq ele é um conservador pró-desenvolvimento e anti-liberal. Mas é um erro achar que os economistas do PSDB, conservadores mas liberais, não sabem o que querem.

Eles são eficientes, embora os que adentraram no governo FHC tenham feito uma gestão macroeconômmica péssima. Mas muitos dos competentes estão nos grandes bancos (disputam até cargos no Banco Central, inclusive durante o governo do Lula do PT).

Meu ponto é que a discussão em que se colocam "PSDB e PFL, quer dizer, PD" é muito mais de refundação de imagem do que de propostas e programa político.

E outra, o "D" do PD não é de "direita", mas de "democrático". Eles não tão saindo do armário.

Além disso, as contradições do processo político tornam também o projeto do PT, por exemplo, bem menos claro do que parece indicar o texto do nivaldo. Percebam que não considero que é igual, nem sequer parecido com os outros.

Mas me lembro que o Alckmin jogou a eleição no 2º turno fora, também qdo perdeu até o entusiasmo da turma liberal, ao negar que desejava privatizar Deus e o mundo, no debate da Bandeirantes em 8 de outubro.

O eleitorado em qqr parte do mundo sufragista tem parcelas à esquerda, à direita e ao nada. Estes transitam entre um e outro de acordo com o momento. Ter um partido de direita não vai cristalizar uma força social tão facilmente. Não mais do que já o está hoje.

Mas a movimentação do "PSDB/PFL, ops, PD," não é o que vai trazer o sistema dos sonhos do Nivaldo. As listas tem mais condições de fortalecer as siglas em geral e chegar lá, mas isso é discussão para muitas e muitas mesas de bar.

Marcão disse...

O mundo eu não sei. Mas Deus, acho que já foi privatizado...

Nicolau disse...

Eu naõ espero qeu ninguém se diga de direita, mas que defenda abertamente idéias caras à direita. Que assuma que luta por menos Estado, por maior presença do mercado, menos regulamentação. Eles já defendem tudo isso, eu sei, mas na eleição dizem que vão resolver os problemas com o Estado, o que é um contrasenso. O Alckmin aregando de defender as privatizações é um exemplo.
Sobre o amadurecimento político, digo isso não porque o Lula ganhou, mas porque me parece que as pessoas começam a identificar discursos e práticas políticas e a usar isso para orientar seu voto. Isso forçaria os partidos e/ou políticos a ter um pouco mais de preocupação com o conteúdo. Sei lá, posso estar viajando.

Marcão disse...

A direita que saiu do armário é o Clodovil.

Anselmo disse...

o certo era a mídia sair do armário. ou melhor, surgir algum veículo que nao fosse de direita.

Marcão disse...

Vamos estatizar a Veja!!!